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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A difícil arte de lidar com os adolescentes






A palavra “adolescência” tem dupla origem etimológica e caracteriza muito bem as peculiaridades desta etapa tão dolorosa e ao mesmo tempo deliciosa da vida. Esta palavra vem do latim ad (a, para) e olescer (crescer) significando a condição ou processo de crescimento. Adolescência também deriva de adolescer, origem da palavra adoecer. Adolescente do latim adolescere, significa adoecer, enfermar. Temos assim, na origem desta palavra, um elemento para pensar esta etapa da vida: Aptidão para crescer (não apenas sentido físico, mas também psíquico) e para adoecer (em termos de sofrimento emocional, com as transformações biológicas e mentais que operam nesta fase).
Esta é a etapa mais difícil e ao mesmo tempo emocionante do desenvolvimento humano. Nesta época da vida, o sujeito, já não é mais criança e ainda não é um adulto. Mesmo em idade adulta, demoramos muito a sermos de fato um adulto, pois, chegar lá leva muito tempo, e é um processo onde em alguns quesitos, talvez, atingimos este amadurecimento, e noutros, ainda não. E claro que nunca alcançamos a maturidade completamente, pois, a possibilidade de evolução humana é, a meu ver, infinita.
Os jovens vivenciam este período acreditando que tudo é possível, e por isso mesmo, oscilam tanto entre os sentimentos de onipotência e impotência, pois, num primeiro momento, sonham que são muito poderosos e que atingirão suas mais utópicas aspirações. Na sua imaginação tudo acontece muito rápido, sem muitas batalhas, afinal, eles não têm paciência para esperar, eles querem resultados imediatos, no entanto, quando percebem que há um caminho a percorrer, e como toda conquista exige um empenho, eles acabam se frustrando consigo mesmos em suas expectativas: no seu poder de sedução, nas suas capacidades e nos seus recursos. E assim, eles podem despencar desde as mais altas aspirações até o mais profundo dos abismos.
Os adolescentes vivem intensas emoções, ora sentindo-se heróis e salvadores do universo, ora transformando-se em fracassados e incapazes. Estes jovens, ou sentem-se os melhores, ou os piores, não possuem o discernimento do meio termo, não experimentam o teste da realidade, eles vivem muito mais nas suas fantasias do que no mundo real. Eles estão com os hormônios à flor da pele e precisam de fortes emoções, ou então o oposto disso – são capazes de permanecer durante longos períodos trancafiados em seus quartos, sem ânimo para nada, “simplesmente” se adaptando a nova condição de ser
Ok! Este conhecimento é importante, tudo bem, mas, e agora? O que fazemos com essa informação? Na prática, no que ela pode ser útil? Nas próximas linhas você encontrará alguns itens sobre como funciona o adolescente e como lidar com este, dificílimo e, ao mesmo tempo, encantador ser:
1- O adolescente na escola, ou em casa, quer provocar as autoridades, seja o professor, orientador, bedel, diretor ou os pais. Ele precisa disto para se testar e também para provar aos colegas que ele “é o Bom”. – Se as autoridades entrarem no mesmo jogo e também quiserem provocar o adolescente, devolvendo na mesma moeda, como por exemplo, “mostrar quem é que manda aqui”, não haverá benefício algum para nenhum dos lados. Isto seria o equivalente a uma guerra de braço. A maneira de lidar com a presunção do adolescente é: não retribuindo com a mesma moeda, pois isto só reafirmaria esta sua maneira infantil de ser. Afinal: “se este “adulto” também age assim, deve ser isto mesmo. Esta conduta de afronta por parte de um adulto, só aprova este jeito arrogante de ser no adolescente” A maneira útil e produtiva de lidar  
com o adolescente rebelde é: Procurar a verdade sobre o que se passa com ele, e apresentá-la, por exemplo: – “Percebo a sua necessidade de me provocar, podemos até conversar sobre isso, mas, não estamos aqui para nos desafiarmos, então vamos ao que realmente interessa, ao que é produtivo e útil”… Nada substitui uma conversa sincera, sem a necessidade de impor moralismos. Um adulto que precisa se fazer valer da moral torna-se chato, irritante e tudo o que vai conseguir do adolescente será certo desprezo. Para não cair nesta categoria, sugiro um diálogo interno, de você com você mesmo, ao lidar com adolescentes, ou com o outro de modo geral. /como se dá este diálogo interno? É útil questionar-se daquilo que se diz e das atitudes que se toma, provavelmente este questionamento interno deixará a pessoa com algumas dúvidas e um tanto confuso, e esta forma de ser é muito mais favorável do que qualquer certeza absoluta, pois, alguém cheio de certezas estará fechada para outras possibilidades. Isto a torna um ser psiquicamente morto e praticamente chato, isto é, sem flexibilidade. E o adolescente, ou qualquer outra pessoa, tende a se esquivar e evitar o contato com alguém rígido ou inflexível.
2- Estes jovens precisam reasseguramento. Afinal, eles se sentem tanto seguros (na fase onipotente) quanto inseguros (na fase impotente), depende do seu momento. Além disso, eles desconfiam muito dos próprios recursos. – Vale à pena oferecer este reasseguramento, se ele de fato merecer, mas, nunca encobrir as falhas. “Por exemplo: -” Seu trabalho está muito criativo, você realmente tem uma imaginação e tanto. Mas há muitos erros de gramática. É uma lástima que estes erros possam tirar o brilhantismo desta redação. “Eu sei que dá trabalho, e talvez você ache meio chato estudar gramática…” (legitimar os sentimentos dele, não entrar naquele discurso: “tem que estudar e pronto, o que você sente não importa”). Continuando: “podemos pensar numa maneira mais interessante de estudar, talvez, você possa estudar com o Pedro que vai bem em gramática”. “Eu acredito que você daria um bom escritor”. . (se a colocação for verdadeira, é claro). Falar a verdade, a respeito das capacidades do adolescente, quando colocada de forma séria e franca, pode dar um belo empurrão no seu percurso de vida.
3- Ele precisa de desafios. – É importante que ele veja os estudos como um desafio. Ele precisa sentir-se instigado a querer conquistar. Adolescente necessita encarar o aprendizado como uma conquista. Para isso, o professor deve amar o que faz, tanto ensinar como também o assunto que domina. Porém, infelizmente, nem sempre é possível encontrar profissionais com este perfil, entretanto, o professor pode desenvolver estas habilidades, através de orientações para professores que levem a reflexão. Há possibilidade de elaborar conversas e palestras para os professores. Afinal, transmitir um conhecimento, sem dúvida nenhuma, é uma arte
4- Os hormônios podem atrapalhar a concentração nos estudos, ou o oposto, podem ser utilizados, justamente, para vitalizar a energia colocada no aprendizado. – O jovem tem muita energia, se ele receber motivação adequada, poderá canalizar esta força para aprender, Os próprios professores podem auxiliar o aluno a desenvolver este desejo do saber. O sexo oposto está em alta, nesta fase da vida, e isto pode ser usado a favor dos estudos. Como? O adolescente pode “aparecer” porque é bom/boa em matemática, ou em qualquer outra disciplina. O problema é que muitos querem aparecer como “palhaços”, isto acontece porque não confiam suficientemente em suas capacidades intelectuais, e/ou porque sua auto-estima está comprometida, e/ou porque procuram o caminho mais rápido para atingir seus objetivos e como veremos mais adiante, tudo o que vem rápido também acaba brevemente (não tem permanência e sustância). Eles/elas pensam que é mais fácil aparecer como palhaços do que sabichões, só que estão muito enganados, pois, as meninas/os podem até rir na hora da brincadeira, mas é momentâneo, logo isto acaba e as seqüelas serão: elas/eles vão preferir aqueles que aparecem de forma mais positiva, além disso, estes irão “chorar” depois, tanto pelas notas baixas, quanto pela perda de tempo em suas vidas e ao amadurecerem perceberão que não é interessante aparecer como um palhaço, só porque não havia outro jeito de aparecer.
Falando assim, fica parecendo uma lição de moral, porém, uma boa conversa, sem apontar o dedo no nariz do adolescente, nem abusar do poder, mas, perguntando, com verdadeiro interesse, o que se passa, querendo de verdade escutar o jovem é o caminho para auxiliá-lo. Ele quer e precisa ser levado a sério, mesmo que a principio ele mesmo não se leve, mas, uma
vez que outra pessoa o considere importante, o recebimento deste olhar, é simplesmente transformador.
5- Os adolescentes estão completamente voltados ao prazer e não para a realidade – ou seja, querem prazer imediato, não conseguem perceber que este tipo de prazer é fantasioso e se desfaz da mesma maneira com que se fez, ou seja, imediatamente. O prazer que vem através de algum esforço é real e durável. -
Se  esta conversa lhe parece muito difícil. Então, vou falar da minha experiência com adolescentes, mesmo porque, não poderia falar sobre qualquer outra coisa – No meu consultório, costumo, antes de qualquer coisa, ouvir, de verdade, as questões do adolescente, seus dramas e histórias, que podem parecer tolas aos olhos de um adulto, mas, sei que nelas contém todo o universo deste adolescente. Com isso em mente, posso levá-lo tão a serio quanto ele próprio, ou ainda mais. Assim, através de validar seus sentimentos, suas fantasias, angustias medos e ansiedades, consigo um encontro com este adolescente. Se há encontro, significa que nós dois nos descobrimos um com o outro. Eu o escuto e agora, ele também pode me escutar e apreender o valor do real prazer.


Fonte: Texto de Léa Michaan          
                                                   

 

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