Mal sabia que não estava sozinha. Descobri que 128 mil mulheres brasileiras se separaram e ficaram com a guarda do filho. Provavelmente, muitas passaram ou passarão por uma situação parecida com a minha ao começar um novo relacionamento. Naquele momento, porém me sentia perdida. Mas estava amando!
Cheia de coragem, resolvi dar uma chance a um novo relacionamento. Escondido do João, um pequeno de um ano e meio, da minha família, quase de mim mesma. As primeiras visitas do Daniel à minha casa aconteciam tarde da noite, quando meu filho estava dormindo. É, achei prudente esperar um pouco. Já tinha visto o filho de uma amiga, com 11 anos, passar por tanta frustração toda vez que ela arrumava um namorado e se separava, que não queria ver João sofrer com isso. Imagine se meu relacionamento com o Daniel não desse certo?
Na minha busca por respostas, lia sobre o assunto, conversava com outras mães e tentava seguir minha intuição. Não cheguei a procurar ajuda especializada, mas, ao escrever este depoimento, achei que seria bacana ouvir uma psicóloga para entender mais sobre o que tinha vivido. Fui conversar com Rita Calegari, do Hospital São Camilo, em São Paulo, que reforçou a importância de poupar a criança de namoros rápidos. O ideal, afirmou, é esperar o momento em que o relacionamento esteja consistente.
Difícil, muitas vezes, é saber quando ele ficou consistente. No meu caso, não deu para esperar o que deveria. João era muito pequeno e não o largava. Meu namoro só daria certo se pudesse me encontrar com o Daniel com ele. No começo, falava para meu filho que ele era um amigo. Acho que tentava dar um tempo para que ele (e eu também) se acostumasse com a idéia de uma terceira pessoa em nossas vidas.
Na primeira vez que resolvemos ‘sair a três’, quinze dias depois que João e Daniel se conheceram, fomos até o litoral. João vomitou tanto na viagem que achei que era um sinal de que não estava fazendo a coisa certa. Bobagem!Logo eles se deram as mãos e saíram como amigos. No carro, quando resolvi dar um beijinho discreto no Daniel, João ficou nos imitando. Fazia graça e mandava beijos também. Era como se estivesse me dizendo: “Está tudo bem”.
No dia seguinte, sentei meu filho no sofá para explicar da maneira mais simples possível que Daniel era meu namorado. Ele não entenderia, claro, mas eu devia isso a ele. As crianças menores ficam com medo de perder a mãe, principalmente se for o primeiro relacionamento após a separação. O melhor seria mostrar que o meu amor por ele não ficaria menor.
Passada a fase de contar para o João, era hora de encarar minha família. Meu pequeno logo aprendeu a dizer “Niel” e aquele falador não demoraria a contar a novidade para quem quer que fosse. Em uma visita da minha mãe, ela perguntou de quem era o boné que estava na porta. Antes que eu mudasse de assunto, João soltou: “É do Niel”. (Não à toa, o acessório virou um símbolo: no dia dos pais, o presente é sempre um boné de cor diferente.)
Não imaginava que depois do desgaste normal de uma separação passaria por outro: a aprovação da família. Na época, eu só queria apoio, mas entendi a preocupação da minha mãe: eram filha e neto que ela queria proteger. As perguntas foram inúmeras: quem é ele, o que faz, gosta de criança e por aí continuava. Apesar do interrogatório, a etapa de “conhecimento” até que foi tranqüila.
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