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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Pais x Escola: um fato, duas versões

São os pais que não educam ou é a escola que dá chance para os alunos aprenderem o que não deveriam?
Uma das coisas que considero mais interessante na vida é observar como um mesmo fato é capaz de provocar interpretações muito diferentes, opostas até. E meu interesse aumenta quando a situação envolve os mais novos.
Esse fenômeno acontece por um motivo simples, nem sempre reconhecido: os pontos de vista de cada um que olha são bem diversos. Por exemplo: quando é o pai que coloca seu olhar sobre o filho, ele vê algo que pode ser bem diferente do que capta o olhar da mãe, não é verdade?
Pois hoje temos uma prova interessante a esse respeito: duas mensagens comentando a mesma situação, que envolve crianças entre quatro e seis anos, mas com abordagens bem distintas.
Um dos pontos de vista é o de uma mãe e o outro, de uma diretora de escola de Educação Infantil.
Nossa leitora, mãe de um garoto de cinco anos, escreveu para reclamar da escola onde matriculou o seu filho.
Ela diz que, apesar de ser nova na idade, pratica o que chama de “ educação à moda antiga” com o filho. Faz o menino respeitar os mais velhos, o ensina a falar  “obrigado”  e  “ por favor”, não admite palavrão, tampouco teimosia exagerada.
Depois de contar tudo isso, a leitora aliviou um pouco. “ Sei que ele é uma criança, só exijo dele o que ele pode fazer”, explicou.
O problema, segundo essa mãe, é que o garoto tem aprendido  fazer tudo o que ela não quer na escola. Agora, ela enfrenta um filho teimoso, bravo e rápido no palavrão. Nossa leitora acredita que o menino só pode trazer isso da escola, já que em casa não tem oportunidade de aprender essas coisas.
Já a diretora da escola reclama da falta de educação das crianças e responsabiliza os pais por isso.
Ela diz que crianças bem pequenas, desde os três anos, se comportam na escola como adolescentes rebeldes: xingam os colegas, brigam com eles pelos motivos mais banais e resistem muito a obedecer aos professores.
Essa outra leitora tem uma convicção: a de que as crianças assim se comportam porque, em casa, os pais pouco ensinam, por terem pouco tempo para estar com os filhos e, consequentemente, não querer desgastar o relacionamento com eles, ensinando uma boa convivência, o que, convenhamos, dá muito trabalho.
Quem tem razão  nessa história, afinal? São os pais que não educam seus filhos ou a é a escola que dá chance para os alunos aprenderem o que não deveriam?
Poderíamos dar razão a qualquer uma das interpretações. Mas, se considerarmos as crianças, podemos problematizar a situação para os dois pontos de vista.
De largada, vamos ter de admitir que são prerrogativas das crianças a provocação, a transgressão e também o ato de desafiar.
É só por causa disso que elas falam palavrões, mesmo sem entender o significado do que falam.
Mas uma coisa entendem: que fazem algo que provoca o adulto. É também apenas por isso que desobedecem, provocam seus pais e professores e, testam mil vezes as imposições e os impedimentos que lhes colocam.
Além disso, precisamos considerar que, no mundo contemporâneo, as crianças não são mais educadas apenas pela família e pela escola. A cidade educa, a mídia educa, a sociedade educa, etc.
Pronto: apenas esses pontos são suficientes para nos ajudar a entender que, quando uma criança faz algo que não deveria fazer, pode não estar nem na família, nem na escola, a responsabilidade por esse fato.
Mas de uma responsabilidade essas duas instituições não escapam: a de insistir nas boas lições, cada uma à sua maneira.

 

Fonte: Jornal Folha de São Paulo – 20/09/2011
Rosely Sayão – psicóloga e autora de “ Como educar meu filho?”

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