Se sentir o centro das atenções pode fazer seu filho mais feliz do que ganhar o
presente mais caro da loja
Em plena semana do Dia das Crianças, comemorado no dia 12 de outubro, você deve
estar às voltas com uma lista imensa de pedidos de presentes, resolvendo o que
quer ou o que pode comprar. Mas já parou para pensar no que faz seu filho feliz
de verdade? Ter o brinquedo mais tecnológico do momento? O mais caro da turma
inteira? Ganhar o primeiro celular, mesmo que o equipamento não seja indicado
para a faixa etária dele?
Se a sua resposta foi “sim” a alguma dessas
perguntas, é bom parar e reavaliar sua postura. Você pode estar valorizando
coisas que ele nem considera importantes para estar feliz no dia a dia e, pior,
ensinando que o consumo ocupa um lugar muito mais importante do que aquele em
que deveria estar. “Os pais têm de ter valores muito sólidos. Têm de entender
que eles são a principal referência na vida da criança. É neles que ela vai se espelhar em primeiro lugar", afirma Laís Fontenelle Pereira,
psicóloga do Instituto Alana, ONG que atua em defesa da criança.
Ver uma criança feliz é muito mais simples do que muitos pais imaginam. Pesquisa
recente e inédita realizada pelo Datafolha a pedido da SBP (Sociedade Brasileira
de Pediatria) ouviu 1.525 crianças, de quatro a dez anos, de todas as classes
sociais, de 131 municípios brasileiros, e revelou que o dia em que 96% delas se
sentem "muito alegres" e "alegres" é o dia do aniversário, quando são o centro
das atenções e estão rodeadas pelos amigos e pela família.
Praticar esportes, brincar com os amigos, férias escolares e assistir à televisão foram os outros momentos, nessa ordem, vencedores na escala de felicidade no levantamento. Além disso, 71% das crianças entrevistadas disseram se sentir "muito tristes" e "tristes" quando estão longe da família. "Uma data como o Dia das Crianças deveria ser dedicada, simplesmente, a relembrar o direito de ser criança, comemorada com brincadeiras e compartilhamento de momentos de alegria entre pais e filhos", diz a psicóloga Silvia Frei de Sá, líder de projetos de educação do Instituto Akatu, ONG que defende o consumo consciente.
Eu quero! Eu quero! Eu quero!
Os números da pesquisa mostram uma realidade muito bem-vinda, mas, na
prática, a criança está inserida em um universo de desejo em que basta ligar a
TV para ficar exposta a uma enxurrada de propagandas que desperta nela a vontade
de ter boa parte daquilo que vê. O resultado? Pedidos e mais pedidos.
Tem explicação. "Até os oito anos, ainda não há a capacidade de abstração
necessária para diferenciar um conteúdo publicitário de um que não é. Se, nessa
idade, a criança vir uma propaganda em que seu personagem favorito transmite a
ideia de que ela tem de comprar determinado produto, ela vai querer comprar", diz a psicóloga
Laís Fontenelle, do Alana.
"Ela é constantemente estimulada a consumir e, no geral, está mais interessada na experiência positiva que a publicidade transmite do que no produto”, afirma Silvia Sá, do Akatu.
"Ela é constantemente estimulada a consumir e, no geral, está mais interessada na experiência positiva que a publicidade transmite do que no produto”, afirma Silvia Sá, do Akatu.
A importância do não
Como não ceder aos apelos de consumo do filho que, na maioria das vezes, tem
o poder de dobrar os pais pela emoção? "O pai e a mãe são os adultos da
relação", fala Laís. "São eles quem sabem o que pode e o que não pode, que têm
de dar o exemplo correto e ensinar valores", diz a especialista.
"O ponto negativo é que o relacionamento atual entre a criança e seus pais está muito ligado à questão do comprar, do ter. Ter para ser, como se a quantidade de objetos fizesse a gente melhor como pessoa", afirma a pedagoga Roselene Crepaldi, conselheira da Aliança pela Infância e doutora em educação infantil. Para agravar a situação, os pais têm cada vez mais medo de dizer "não" ao filho, já que muitos carregam a culpa de não estarem presentes como gostariam no dia a dia.
"O ponto negativo é que o relacionamento atual entre a criança e seus pais está muito ligado à questão do comprar, do ter. Ter para ser, como se a quantidade de objetos fizesse a gente melhor como pessoa", afirma a pedagoga Roselene Crepaldi, conselheira da Aliança pela Infância e doutora em educação infantil. Para agravar a situação, os pais têm cada vez mais medo de dizer "não" ao filho, já que muitos carregam a culpa de não estarem presentes como gostariam no dia a dia.
Negar um pedido da criança, sempre que achar pertinente, é muito importante.
“Faz parte do desenvolvimento infantil se habituar às regras de convivência. À
medida que o pai estabelece um limite, a criança passa por uma frustração que
contribui para seu amadurecimento", afirma Saul Cypel, neuropediatra do Hospital
Israelita Albert Einsten, de São Paulo, e consultor da Fundação Maria Cecilia
Souto Vidigal, voltada à primeira infância. "Pais têm medo de falar 'não' porque
receiam quebrar a relação com o filho, mas faz parte", diz Roselene, da Aliança
pela Infância. "O dinheiro não pode ser mais importante do que o convívio".
Diálogo: simples e eficaz
O diálogo ainda é a melhor opção. "Quando uma coisa faz sentido para a
criança, por mais que a chateie ou a frustre, ela aceita. Os adultos acabam não
tendo muita paciência, mas têm de sentar com o filho e explicar os motivos de
ele não poder ter determinada coisa", diz Silvia.
Na tarefa de driblar o consumo infantil, fique atento à questão do "duplo
comando", conforme denomina Laís, do Instituto Alana. "A criança aprende com os
exemplos. Não dá para proibi-la de comprar o que quer e sair de outra loja
carregado de sacolas com coisas para você. É importante que os pais tenham
coerência entre o que falam e o que fazem".
Se o Dia das Crianças pode ser comemorado com presentes? Pode, dizem os
especialistas. O único ponto é usar de ponderação, colocando o consumo em seu
devido lugar, que é bem depois das relações familiares.
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